O ensino de idiomas é uma pratica milenar. Com a globalização, a busca pelo aprendizado de outras línguas ficou ainda mais intensa, com destaque para o inglês. No último artigo eu mostrei como o inglês continuará sendo a principal língua mundial nas mais diversas áreas. No Brasil, porém, alguns fatos ainda fazem com que haja escassez de pessoas fluentes em inglês: baixa exposição à turistas, sistema educacional inadequado, aprendizado tardio. Por isso, é muito comum pessoas na fase adulta buscarem escolas de idiomas para conseguir a tão sonhada fluência no idioma.
Não é à toa que o Brasil tem o maior mercado de escolas de inglês do mundo, porém isso não tem ajudado com a mudança do quadro no número de fluentes. Já há algum tempo os consumidores têm procurado alternativas para aprender de modo eficaz. Por exemplo, segundo a BELTA no ano de 2019 os gastos de brasileiros com intercâmbio foi de 1 bilhão de dólares. Com a ineficiência desses programas e com a pandemia, o ano de 2020 viu um grande crescimento nos cursos online por meio de plataformas que têm abocanhado uma grande fatia deste mercado. Um exemplo é Pearson que desenvolveu o curso online como um “paliativo” para não perder alunos e com isso criou um novo segmento na empresa.
Os cursos online vieram para ficar. Mas a pergunta é: quanto isso afetará realmente o ensino e o quanto seremos capazes de mudar uma vez por todas o cenário da fluência no Brasil? Enquanto não reavaliarmos os fundamentos da educação e consequentemente do ensino de idiomas no Brasil, vamos mudar o meio que poderá até aumentar o faturamento de quem tem grande presença no mercado, mas isso não fará diferença nenhuma.
Se quisermos de fato ver esses avanços, escolas de idiomas e edutechs precisam como se diz em inglês “go back to the drawing board” e se reinventar. Afinal o que temos hoje são escolas usando plataformas com tecnologia do século XXI, com professores que tem uma visão de mundo do século XX usando metodologia do século XIX.
Algumas mudanças que precisamos implementar no modelo de ensino incluem:
- Foco da aula no aluno, não no professor ou no currículo: Não se engane, o currículo é importante, mas ele funciona como uma caixa de ferramentas que pode ser adaptada e mudada sempre que necessário para ajudar o aluno a atingir seus objetivos. Se o aluno não entende a necessidade de um conteúdo ou de um treino, ele não conseguirá fazer o processo de aquisição, desenvolvimento e abrangência da língua, o que é fundamental na aquisição do inglês. No processo de aprendizagem é o aluno que precisa dar o show. O professor precisa tirar o avental de professor e se comportar como um coach ou um mentor. Nós damos as ferramentas, mostramos o caminho e deixamos os alunos brilharem. Por isso trabalhamos com currículo invertido. Começamos perguntando: onde o queremos levar esse aluno? Que habilidades ele precisa desenvolver para chegar lá? Quais são os treinos mais eficazes para esse aluno? Como vamos envolver esse aluno no processo de tomar posse do seu processo de aprendizado?
- Propósito: É fundamental perguntarmos para nós mesmos: por que eu decidi ter um negócio de idiomas? Não só isso, mas precisamos levar o aluno a pensar: Por que eu quero aprender inglês? Aprender um segundo idioma, especialmente na fase adulta requer uma boa dose de perseverança, vulnerabilidade e bom humor. Mas para que isso aconteça, o aluno precisa ter mais do que o desejo de uma promoção por conta do inglês. É necessário um senso de propósito. É isso que leva as pessoas a estudar inglês. Gostar de tentar, se expor, ouvir, imitar, ler, escrever. E o prazer está não no que você pode conquistar com isso, mas está nisso mesmo. Como disse Antoine de Saint-Exupéri: “Se você for estiver em uma ilha em que as pessoas nunca saíram de lá e que nem sabe que existem barcos e quiser ensiná-las a construir um barco, não comece ensinando engenharia naval, mas ensine sobre a beleza dos oceanos, as aventuras que nos esperam, os continentes a serem conquistados, e quando eles estiverem apaixonado por essas possibilidades eles estarão prontos a aprender qualquer coisa para construir um barco.
- História: Aprender regras gramaticais não é algo natural para o cérebro. Mas nosso cérebro foi programado para ouvir e contar histórias. As histórias construíram a humanidade como conhecemos. Bons mentores não são apenas bons contadores de histórias, mas são bons guias no processo de ensinar seus mentoreados a contarem suas histórias. Pessoas não aprendem uma língua estudando listas de verbos, mas contando suas histórias. Essas histórias geram conexão, memorização, sentido, e são tão importantes que quando focamos nelas perdemos o medo de errar. Isso aumenta nossa probabilidade de nos autocorrigirmos de modo suave e natural e de ampliarmos nosso vocabulário uma vez que uma mesma história pode ser contada diversas vezes acrescentando novos detalhes.
- Micro-aprendizado: Não adianta reproduzir a aula que foi feita há décadas em uma sala de aula achando que agora por um passe de mágica os alunos vão aprender. Os alunos precisam imergir na língua e também de um processo que os ajude a criar hábitos. Charles Duhhig, em seu livro O Poder do Hábito, mostra como hábitos estão alocados na parte mais permanente da memória. O micro-aprendizado ajuda o aluno a praticar mais vezes em “chunks” ou pedaços de treino, o que leva a se criar o hábito de treinar inglês constantemente. Com o tempo, essa prática vai levar o novo idioma a ficar sedimentado na memória de longo prazo e a ser algo quase tão natural quanto o primeiro idioma.
- Comunidade: A ideia de que um aluno pode aprende mais com aula um a um do que em grupo, mesmo quando o professor é nativo, é uma falácia. Comunicação é algo para ser feito em grupo. Não existe nenhum estudo sério que diga que o aluno aprende melhor se tiver aulas particulares, nem existe estudo dizendo que ter aulas com nativos é mais eficaz. Acredite, não é. Uma das necessidades de aprendizado apontadas por Willian Glasser em seus estudo sobre Choice Theory é a necessidade de pertencimento. Quando você faz parte de um grupo, quando você tem pessoas que são companheiros de jornada que te acolhem, te apoiam e juntos compartilham a mesma luta, você passa a ter uma vantagem competitiva. Grupos com dinâmicas eficazes geram mais empatia, mais prática, mais suporte e isso aumenta a sua probabilidade de continuar até atingir seus objetivos. Cursos online geralmente falham porque não conseguem criar esse tipo de comunidade. Muitos cursos não passam de vídeos em plataformas com PDFs, mas para termos um processo eficaz, o fator humano e de conexão é insubstituível.
- Gamificação: As pessoas precisam ser desafiadas, ter sua curiosidade despertada, e seu ímpeto posto à prova. O processo de gamificação, quando feito de maneira saudável, tira o aluno da rotina, aumenta seu prazer, e com uma boa dose de dinamismo gera nele estados de fluxo de energia mental que faz com que ele possa chegar a treinar por horas sem se sentir entediado. Estudantes precisam ser tirados da zona de conforto, mas se eles têm a sensação de que algo é difícil demais ou fácil demais, eles não terão motivação pra continuar. Processos gamificados fazem com que os alunos estejam pensando no treino mesmo fora do treino, procurando soluções, alternativas e novas maneiras de fazer algo. Quando isso acontece, o aumento à exposição de um conteúdo é natural, sem que ele tenha que estar sentando em uma sala de aula ou fazendo lição de casa.
- Soft skills: Os soft skills, ou habilidades sócio emocionais são de grande importância para o desenvolvimento do aluno. De novo, foi-se o tempo em que era suficiente treinar verbos e ouvir os diálogos do Paul e da Mary em sala de aula. Pesquisas feitas em universidades da Ivy League nos Estados Unidos mostraram que o estresse, a ansiedade e o medo eram os principais fatores para os estudantes não aprenderem um segundo idioma.
Treinos que incluem habilidades de inteligência emocional, mindfulness, empatia, vulnerabilidade, resiliência, entre outros, aceleram a confiança, a capacidade de se expor e a motivação do aluno no processo de aprendizado. Não só isso, mas o aluno precisa receber recursos e ferramentas que lhes dêm transcendência. Isso não vem apenas de ter sessões de meditação em uma aula, na verdade isso vem por estimular o aluno a treinar com pessoas que sabem menos que ele, servir auxiliando de forma voluntária em um projeto social, ouvir e contar histórias, dar e receber feedbacks, desenvolvimento de meta cognição e por uma consciência clara de como o cérebro funciona e como lidar com a ansiedade e medo.
Essas são algumas das mudanças que o ensino online e híbrido precisam implementar urgentemente e se não o fizermos, corremos o risco de termos apenas adaptado nossa aula que um dia foi dado em retroprojetor, fita-cassete e com folha cheirando álcool saindo do mimeógrafo para a tela de um celular e um aplicativo. Não basta apenas mudar o meio, tem que mudar a essência.
É por isso que nós na The Immersion House temos nos dedicado a cada dia para aprimorar os processos, implementar novos recursos e afinar nosso método para oferecer uma experiência de estado da arte para os nossos alunos usando uma abordagem multidisciplinar em nosso método NELF que envolve Neurociência, Espiritualidade, Linguística e Fonoaudiologia. Com um estudo epistemológico e cognitivo unido a observação empírica, estamos a cada dia melhorando e criando métodos que nos colocam na vanguarda do processo de formação de bilíngues que em pouco tempo será amplamente divulgado e democratizado para que qualquer pessoa tenha acesso ao grupo de pessoas que se apresentam como fluentes em inglês.
Teacher Sam